No Salão Jovem da UFRGS, estudantes e professores mostram que educação resiste ao desmonte de Marchezan

Fonte: Simpa | Priscila Lobregatte

Dezenas de alunos de escolas públicas e particulares de Porto Alegre estão participando, nesta semana, do 13º Salão Jovem da UFRGS, que acontece até o dia 19, no Campus do Vale. O objetivo do evento é divulgar pesquisas realizadas pelos alunos da educação básica e da educação profissional técnica, incentivar a investigação científica, criar oportunidades para a integração entre a universidade e comunidade escolar e fomentar atividades científicas e tecnológicas para alunos e professores.

 

Mesmo com as dificuldades vividas pelas escolas do município devido à política restritiva de Marchezan, que está precarizando cada vez mais a educação pública de Porto Alegre, o esforço de alunos e professores rendeu ótimos trabalhos que contribuem tanto para a formação educacional quanto para a compreensão dos problemas da sociedade.

 

Representado pelos diretores Jonas Tarcísio Reis e Hamilton Farias, ambos professores, o Simpa prestigiou o evento nesta terça-feira, 16, acompanhando alguns dos trabalhos expostos. “Os trabalhos foram muito bem concebidos, os alunos estavam motivados e interessados pelos temas. Se a educação de Porto Alegre não estivesse sendo tão atacada pela atual gestão, certamente teríamos mais projetos desse nível sendo desenvolvidos”, destacou Reis.

 

Homofobia e machismo em pauta

 

Temas como violência doméstica, relações de gênero, cultura afrodescendente, robótica, diversidade sexual, internet e educação infantil foram abordados pelos alunos de escolas públicas na tarde desta terça-feira.

 

Preocupado com o ambiente homofóbico que cresce na sociedade (e por consequência, nas escolas), um grupo de alunos da EMEF Mariano Beck levou o debate da diversidade para a sala de aula e constatou que o assunto ainda é alvo de tabus e preconceito mesmo entre os mais jovens.

 

Para tratar do tema com os colegas, o grupo montou oficinas de discussão. “Descobrimos que muitos colegas ficaram incomodados com a discussão, demonstrando isso principalmente com piadas”, anotaram os alunos. Então, “buscamos questionar e desconstruir as falas dos colegas que se sentiram incomodados através de argumentos e exemplos”, completaram. E concluíram apontando que “a escola precisa abrir este espaço de discussão para os adolescentes, pois pode ser um instrumento muito eficaz para combater a homofobia e outros preconceitos, fazendo o ambiente escolar mais saudável para todas e todos e evitando o discurso do ódio”.

 

Outro trabalho, da escola Moradas da Hípica, abordou as relações de gênero e poder no bairro, mostrando a importância do debate sobre o machismo desde cedo e a necessidade de haver mais políticas que busquem a superação da desigualdade entre homens e mulheres.

 

Cultura afrodescendente

 

Outro trabalho, apresentado por alunos da EMEF Vila Monte Cristo, procurou resgatar a contribuição afrodescendente em nossa história e cultura. A pesquisa apontou que, mesmo com a sanção da Lei 10.639/03, que institui o ensino de História e Cultura Afro-brasileira nas escolas, “percebeu-se que durante a trajetória do ensino fundamental, existem poucas atividades relacionadas à contribuição do povo africano na construção da identidade cultural brasileira, que às vezes se restringem a datas comemorativas”.

 

Por isso, os alunos resolveram entrevistar outros 200 alunos de duas escolas da rede pública, além e professores e funcionários. A partir destas entrevistas, constataram que 72% dos estudantes não sabiam o que eram as cotas raciais e 62% desconhecem o conceito de afro-descendência. “Os professores que participaram das entrevistas evidenciaram uma história de luta contra o preconceito e racismo nos espaços escolares, revelando a dificuldade de incluir o tema na grade curricular de forma efetiva”.

 

Ciência e tecnologia a serviço da educação

 

A Escola Villa Lobos, cujo projeto de robótica ficou conhecido recentemente depois que seus alunos ganharam campeonato no Canadá, também esteve presente no Salão mostrando trabalho que cruzou a robótica com a contação de histórias.

 

Os alunos montaram robôs personagens para a fábula dos Três Porquinhos e apresentaram a história para estudantes do ensino fundamental. A história, contada por meio dos robôs Lego Mindstorms RCX, foi, ainda, gravada em vídeo e postada no Youtube. “Observamos que os alunos que assistiram o projeto manifestaram reações de alegria, surpresa, euforia e verbalizaram o desejo de participar das aulas de robótica educacional da nossa escola no futuro”, concluíram os estudantes.

 

Em outro trabalho, alunas da escola José Mariano Beck mostraram como utilizar o Youtube para incentivar a leitura. Elas são monitoras da biblioteca da escola e, percebendo o baixo índice de leitura em sua comunidade, especialmente entre adolescentes, resolveram criar um canal, chamado The Librarians, no qual dão dicas de leitura.

 

Elas perceberam que houve aumento de acesso ao canal e de procura, na biblioteca, dos livros por elas indicados. “A leitura pode, sim, se tornar interessante e atrativa mesmo em comunidades em que o nível de escolaridade seja baixo, desde que se façam intervenções nos locais. Cabe salientar que o potencial da intervenção aumenta quando realizado, como no nosso caso, por membros da própria comunidade”.

 

Os trabalhos acima mencionados, entre outros, receberam destaque por parte do Salão. Para saber mais sobre evento e como visita-lo, clique aqui.

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