Fernando Haddad: consenso pelo trabalho com educação

“Nenhum país jamais se completou como nação num ambiente de guerra e ódio. Queremos pacificar e unir o país em torno de valores e de um projeto de nação”

 

> Por Fernando Haddad, candidato à presidência da República (PT)
> Publicado em GaúchaZH | Opinião

*Os dois candidatos à Presidência foram convidados a escrever artigos no espaço destinado pelo veículo da RBS. O candidato Jair Bolsonaro não enviou o seu texto até o prazo dado a ambas assessorias.

Ter chegado ao segundo turno desta eleição me enche de orgulho e me dá a nova oportunidade de conversar com todos os brasileiros e brasileiras. E de falar em especial ao povo gaúcho, que sofre os efeitos da má administração estadual, associados às medidas antipopulares impostas pelo governo Temer.

Entre as muitas qualidades que se exigem dos governantes, duas se destacam: competência e capacidade de amar o próximo. Não se governa com ódio. Tampouco com propostas vazias lançadas ao vento — e toda proposta é vazia quando apresentada por um político que, em três décadas de vida pública, nada fez para melhorar a qualidade de vida do povo que há 28 anos lhe paga o alto salário de deputado, sem receber nada em troca.

O Brasil é o recordista mundial em mortes provocadas por arma de fogo: são 43 mil pessoas mortas por ano, incluídas as crianças que brincavam com o revólver do pai. Não precisamos de mais mortes. Não devemos colocar indiscriminadamente mais armas nas mãos de uma população sofrida, amedrontada e alimentada com ódio. Nada de bom pode resultar dessa insensatez. Em vez de armas, livros. Em vez da desesperança, do medo e do ódio, mais oportunidades de emprego e ascensão social.

As propostas para governar o país e retomar o desenvolvimento, que apresentamos ao longo do primeiro turno, certamente não chegaram a todos, ou chegaram de forma incompleta, sufocadas por mentiras, boatos, fake news espalhadas pelas redes sociais. Agora, mais do que nunca, é hora de o amor vencer o ódio e a verdade vencer a mentira.

Nunca deixei de comparecer a qualquer debate. Participei de toda discussão importante para os destinos da nação, seja como professor, gestor público, chefe de Executivo ou candidato a presidente da República. E quero, mais uma vez, debater com meu adversário um projeto de país.

Especialmente agora, no bojo de uma grave crise econômica e em meio ao ódio e às mentiras disseminados pelo meu adversário, é importante que tenhamos todos a mente aberta e o espírito desarmado, para formar opinião e defender o futuro dos nossos filhos e netos. Sustento que, para isso, o país recupere o ambiente de paz e crescimento econômico e promova níveis necessários de coesão social.

Nenhum país jamais se completou como nação num ambiente de guerra e ódio. Queremos pacificar e unir o país em torno de valores e de um projeto de nação, dentro da democracia e de um Estado de direito constitucional no qual as divergências sejam processadas e resolvidas com civilidade e respeito recíproco, entre as forças políticas que prezam os valores democráticos e republicanos. Esse foi e será o meu estilo de governar: amplo diálogo e respeito à soberania popular, sem exclusões e revanchismos de qualquer espécie. Esse sou eu, que sei formar equipes e governar com humildade, mas sem renunciar a princípios.

Meu compromisso de vida é com o emprego e com a educação. Quero que todos tenham uma carteira de trabalho numa das mãos e um livro na outra, a melhor forma de construirmos uma sociedade verdadeiramente segura. Não se trata de sonho ou utopia, e demonstrei isso quando fui ministro da Educação: construímos escolas técnicas e universidades em todas as regiões do país, incluindo três no Rio Grande do Sul. Nunca tantos jovens chegaram ao Ensino Superior. Naquele período, vivemos uma situação de pleno emprego, no país e no Estado, onde sobressaíam o polo naval de Rio Grande, além da agricultura, da pecuária e do cooperativismo, tão caros à economia e à vocação do povo gaúcho.

Não se criam riquezas sem educação, sem tecnologia avançada, sem qualidade na gestão pública, sem trabalho assalariado. Não se cria uma nação forte sem um empresariado com capacidade de investir, sem uma infraestrutura bancada pelo Estado, sem uma política de encomendas públicas ao setor privado, sem uma taxa de juros que oriente os investimentos para o setor produtivo.

Estou comprometido com um governo que tire dos ombros da maioria dos brasileiros o pesado fardo que hoje carregam as classes médias e as camadas populares. Vou encaminhar, por emenda constitucional, uma proposta de reforma tributária para mudar este atual modelo, que faz a classe média e os trabalhadores pagarem mais impostos do que os muito ricos.

Vejam, não me refiro a penalizar quem recebe um bom salário pelo seu trabalho. Refiro-me aos super-ricos, que não chegam a 0,1% da população e que ganham, num único mês, o mesmo que 23% da população brasileira receberia trabalhando por 19 anos seguidos. Meu compromisso é o de isentar do pagamento de Imposto de Renda todos aqueles que recebam o valor correspondente a até cinco salários mínimos.

Outra medida necessária e urgente é a reforma bancária, com a redução dos exorbitantes juros atuais, para que empresários de todos os tamanhos possam investir na produção de bens de consumo e serviços. É isto que faz a economia crescer, assegura mais e melhores empregos e traz prosperidade.

Para gerarmos um ambiente de paz e bem-estar é preciso ainda, investir recursos de forma eficiente em saúde e educação. Recursos estes que o governo Temer, com apoio do meu adversário, absurdamente resolveu congelar por 20 anos.

Eleito presidente, ao lado da minha vice, Manuela D’Ávila, que é gaúcha, vamos respeitar todos os compromissos democráticos. Vamos dialogar com o Congresso e apoiar todos os governadores, independentemente do partido a que pertençam, para encontrarmos as melhores alternativas para o bem-estar dos brasileiros e brasileiras. A democracia não tolera qualquer discriminação.

Sei das dificuldades do Rio Grande do Sul. O futuro governador, seja ele quem for, poderá contar comigo e com a Manuela, para que o governo federal seja parte ativa na superação dos problemas e não um fardo adicional, ao contrário do que ocorre hoje com o governo Temer.

Agora somos apenas dois candidatos, e há apenas dois caminhos possíveis. Eu me situo no campo do bem-estar social, da democracia, do crescimento ambientalmente sustentável com distribuição de renda. Quero contar com o seu apoio e voto, para que o Rio Grande do Sul e o Brasil encontrem o caminho da paz e possam se reerguer com a solidariedade e a fraternidade que forjarão um destino comum de justiça e liberdade para todos e todas.