No dia 20/06, a diretora da Atempa, Rosele Cozza Bruno de Souza, que também é diretora da EMEF Anísio Teixeira e representante do Fórum de Diretores das Escolas Municipais de Ensino Fundamental de Porto Alegre, concedeu entrevista à Rádio Gaúcha, quando destacou as dificuldades que as direções das escolas enfrentam, com a falta de atenção às questões estruturais e falta de RH da Rede Municipal de Ensino. A participação na rádio foi feita por solicitação de contraponto por parte da professora Rosele, em nome do Fórum de Diretores, às declarações do prefeito Melo na mesma emissora, acusando as direções escolares de criticarem a Secretaria de Educação (SMED) por motivação ideológica. O Fórum também divulgou uma Carta de Repúdio, na qual foi manifestada indignação pela distorção que o representante do executivo municipal tentou fazer, culpabilizando as escolas pelas ações de responsabilidade exclusiva da SMED.
Sebastião Melo, durante a entrevista concedida no dia 08/06, para a Rádio Gaúcha, após virem a público as denúncias sobre a compra de materiais superfaturados, disse que a responsabilidade pela má gestão, pela falta de manutenção nas escolas e também a não utilização dos materiais comprados é de responsabilidade dos diretores das escolas. Esse pronunciamento causou profunda revolta na rede municipal de ensino, que busca desde o ano passadointerlocução com a SMED, questionando a compra de materiais sem consultar as escolas, indiferente à falta de condições de infraestrutura dos prédios escolares. Com a repercussão negativa e impossibilidade de sustentar seu pronunciamento, diante das evidências, no dia 19/06 o prefeito Melo retornou à Rádio Gaúcha, usando outro tom em seu discurso. Anunciou medidas que envolvem as escolas municipais e reconheceu problemas administrativos, em especial os de logística, na Secretaria Municipal da Educação.
Questionada pelo jornalista Leandro Staudt se houve alguma mudança no período de dez a quinze dias, após denúncia da GZH, a diretora da Atempa esclareceu que foi somente após as denúncias virem público, por meio da mídia, de todas as questões que há tempos eram reclamadas antes mesmo dos primeiros materiais chegarem nas escolas, que a Prefeitura resolveu ouvir, e prometeu realizar levantamento dos problemas e busca de soluções.
A diretora Rosele ainda ressalta que é preciso haver entendimento de que os professores querem que o alunos tenham acesso aos equipamentos tecnológicos, mas que existem necessidades que antecedem, e que, inclusive, irão possibilitar a utilização destes equipamentos, que são as melhorias na infraestrutura dos prédios das escolas. “Precisamos do básico”, diz a diretora, como classes e cadeiras, que estão estocadas nos depósitos, cadernos para os alunos, já que as escolas receberam os kits escolares incompletos, e bem depois do ano letivo ter iniciado. Muitas escolas não dispõem nem de rede elétrica que comporte a ligação de todos estes equipamentos recebidos, pois necessitam de reforma na rede. E destaca: “são estas diversas questões que estão sendo colocadas em discussão há muito tempo”.
Perguntada pelo jornalista Staudt sobre a organização da Prefeitura em relação às demandas trazidas pelas escolas, se houve agilização dos fluxos, a Diretora Rosele destaca que algumas demandas de organização da escola apresentadas até então à Secretária da Educação, Sônia da Rosa, tiveram avanços, respeitando a autonomia das escolas. Já as que envolviam a parte financeira, estas foram bastante prejudicadas. No caso das estruturas, por exemplo, é bem grave, pois até a Secretaria da da Educação está sem prédio, o que dificulta também a comunicação, pois algumas pessoas estão em trabalho remoto, trazendo ainda mais dificuldades de comunicação. Além disto, “passamos por um período em que o secretário-adjunto Mário de Lima, entendeu que não seria possível comprar bens permanentes, passamos um ano inteiro sem a compra destes bens”, destaca a diretora da Atempa.
A SMED orientou as escolas a fazerem um planejamento, porém o recurso ainda não entrou. O planejamento das verbas é bastante burocrático e trabalhoso, seguido com rigor pelas escolas, porém, de tempos para cá, levamos meses para receber essas verbas, o que acaba prejudicando todo o planejamento, pois os orçamentos expiram, diz Rosele.
Outro apontamento feito pela diretora da Atempa se refere às reformas nas escolas. Rosele esclarece que foi informado para as direções escolares que haveria um contrato com uma empresa para a realização de consertos nas escolas, uma vez que o setor de manutenção, que era da mantenedora, foi sucateado ao ponto de não existir mais. Haveria, então, esta empresa para prestar todos os serviços de manutenção às escolas, “que por óbvio, e já faz um ano, nada resolvido”, diz Rosele.
A expectativa de haver uma empresa que prestaria este tipo de serviço fez com que os diretores deixassem de realizar os planejamentos, estruturados a partir das verbas recebidas, que deveriam ser pagos pela mantenedora, o que decorreu em serviços não realizados.
A diretora da Atempa, Rosele, destaca que tudo que foi relatado durante a entrevista foi passado para a prefeitura há tempos, antes das visitas realizadas após as denúncias.
– Nossas comunidades merecem muito mais que o mínimo e não temos nem o básico! Precisamos de professores para poder trabalhar com a tecnologia. As questões de estruturas e de RH deveriam ser prioridade. Assim como a construção do projeto político-pedagógico com a participação de toda a rede que até o momento não temos e não nos ouvem. Isso é o básico. Não adianta enviar um monte de material se não tivermos pessoas para trabalhar, se não tivermos condições de trabalhar – finaliza Rosele.