O segundo dia do seminário Educação e Democracia – os violentados da sociedade estão na escola aconteceu na manhã do sábado, dia 15/12, realizado no plenário Ana Terra, da Câmara de Vereadores, contou com a apresentação de projetos realizados nas escolas e que resistem ao sucateamento imposto pelo governo. A mesa “Como os violentados (alunos e professores), seus corpos e mentes, se apresentam e resistem nas escolas” reuniu especialistas em educação para comentar as ações desenvolvidas na rede municipal de ensino e foi formada por Cláudia Fonseca, Célio Golim, Reginete Souza Bispo, Carmen Craidy e Mateus Saraiva.
“Este seminário resgata a luta de todas as pessoas que dedicam a vida, fazem a militância e a reflexão teórica para que mulheres, negros e negras, LGBTI+, trabalhadores e trabalhadoras se empoderem”, destacou o diretor geral do Simpa, Jonas Tarcísio Reis. Para ele, hoje existe muita dificuldade de se enfrentar sozinho, nos espaços escolares, os desafios que são jogados contra os educadores. “Temos a violência como patrimônio cultural e a tentativa de anular as lutas das minorias.”
Diante deste cenário, o professor e fundador do Nuances – Grupo Pela Livre Expressão Sexual, Celio Golim, destacou a relevância do tema proposto pelo seminário: “fazer um debate político sobre democracia e todo o processo de exclusão que existe na área da educação, na atual conjuntura política do Brasil, é importante para enfrentar toda a situação que está por vir.” A antropóloga e professora, Claudia Fonseca, também acredita no papel essencial do debate e alerta que o maior desafio nas escolas é a diversidade: “uma sociedade democrática reconhece e valoriza a diversidade como riqueza”, enfatizou.
Matheus Saraiva, representante da Frente Gaúcha Escola Sem Mordaça saudou a iniciativa do Simpa, Atempa e Faced de trazer os saberes que são feitos na escola para que a universidade seja problematizadora da situação. “Sem diálogo efetivo entre as partes não faz sentido o ensino”, pontuou.
INCLUSÃO
O primeiro tema apresentado trouxe o projeto desenvolvido na EMEF Pepita de Leão, relacionado à cultura inclusiva. A professora Carina Aguiar e a estagiária Bruna Lenz Becker mostraram como funciona a sala de recursos destinado ao atendimento de alunos com alguma necessidade especial. Atualmente o projeto envolve 25 alunos e está com mais 18 em lista de espera. “Desenvolvemos atividades diferenciadas da sala de aula, no turno inverso da escola”, explica a professora. Em sua experiência, relata que a maior dificuldade é lidar com a vulnerabilidade social das crianças e a precarização da escola. “Isto fica muito atrelado à violência nas escolas.”
As atividades são adaptadas para que sejam acessíveis e façam sentido para os alunos. Envolvem desde a alfabetização e o letramento, até artes e música. “É um espaço onde se sentem acolhidos”, diz Bruna.
VIOLÊNCIA
O tema da violência impacta fortemente as escolas. Como a discussão foi marcada pelos recentes episódios de agressão contra professores, o eixo foi apresentado pelo professor e diretor da EMEF Saint Hilaire, Ângelo Barbosa. A escola que dirige registrou o quarto caso de agressão, em um período de 15 dias. “O mais chocante foi perceber que não havia nenhum protocolo da Secretaria Municipal de Educação (SMED) para orientar. As escolas ficaram desassistidas”, lamentou.
Para Ângelo, a SMED tomou decisões equivocadas que culpabilizaram as vítimas nos casos de agressão. “O secretário tem dito que as escolas devem trabalhar em cima das relações humanas, como se as escolas já não fizessem esse trabalho, e ainda tira responsabilidade de cima da gestão centralizada, apontando para que as próprias direções resolvam os casos”. Simpa, Atempa e comunidades escolares foram unânimes em reivindicar o retorno da Guarda Municipal nas escolas. Em resposta, o titular da Smed afirmou que vigilância ostensiva traz violência para dentro da escola. “Isso é um absurdo! Ignora que a rede tem uma tradição de estabelecer parceria com a Guarda Municipal”, argumentou o professor Ângelo.
O desgaste e o sentimento de abandono entre os professores é reflexo das agressões sofridas e da falta de amparo pela mantenedora. Carmen Craidy, professora da UFRGS, acredita que este é um momento muito importante para se pensar em conjunto tudo que esta ameaçando a educação.
GÊNERO E ETNIA
Formado a menos de um ano, o coletivo Quilombelas, da EMEF Alberto Pasqualini, expande a educação afro-brasileira na rede. Composto por seis professoras, negras e cotistas– Ana Carolina Santos, Cristina Centeno, Helena Meireles, Helena Paz, Janaína Barbosa e Vanessa Félix – o grupo foi criado após o trágico 14 de março de 2018, quando a vereadora carioca Marielle Franco foi executada a tiros, juntamente com o motorista, Anderson Gomes. O coletivo organiza saraus, ocupa os murais da escola e faz apresentações e intervenções durante o recreio. “Como foram retiradas as horas de planejamento, atuamos em horários e espaços que a escola não tem. Mesmo assim, já percebemos o envolvimento dos alunos e o aumento da autoestima”, afirma Helena.
Reginete Souza Bispo, coordenadora do Instituto Akanni, que atua em questões de gênero, racismo e direitos humanos, lembrou que a educação sempre foi um problema para os negros, pois o Brasil é um país negro em que a escola sempre nega a história do povo negro. “A educação sempre foi voltada para as elites. Pouco foi investido na educação pública e o modelo sempre foi eurocêntrico, voltado para valores que não são do povo daqui.”
Nas últimas décadas, se destaca a tentativa de ampliar a grade curricular com a legislação que obrigada as redes públicas e privadas a trabalhar com a história das relações étnico raciais no País. “Mas quando se começa a avançar, instituições, partidos tentam implementar o Escola Sem Partido, uma ideia de uma elite dominante fundamentalista que tenta impor um modelo teocrático, uma imposição e retrocesso”, avisa.
Fonte/Foto: Simpa