Reunião no gabinete do prefeito, em 2021, teria sido decisiva para inserir nos negócios o grupo representado pelo empresário Jailson Ferreira da Silva

Diante dos novos desdobramentos da Operação Capa Dura, que nesta terça-feira (12) executou buscas e apreensões contra quatro pessoas em residências, na prefeitura e na Procuradoria-Geral do Município, o prefeito Sebastião Melo afirmou enfaticamente que não tolera corrupção em sua gestão. No entanto, segundo investigações, uma reunião realizada em seu gabinete em julho de 2021 teria sido decisiva para viabilizar a entrada do grupo econômico representado pelo empresário Jailson Ferreira da Silva nos negócios investigados.

Oito meses antes de iniciar os trâmites de compra de R$ 43,2 milhões em materiais didáticos, o prefeito Sebastião Melo (MDB) e a então secretária municipal de Educação, Janaína Audino, se encontraram com os empresários Jailson Ferreira da Silva e Sergio Bento de Araújo, que ofereceram os produtos à prefeitura. 

A reunião ocorreu em julho de 2021, segundo Jailson Ferreira da Silva, conhecido como Jajá, que postou a foto do encontro no seu perfil do Instagram. Mas a participação dos empresários não constou na agenda oficial de Melo. A revelação do encontro foi divulgada em agosto de 2023, durante a sessão da CPI da Smed.

Jailson é representante das empresas Inca Tecnologia e Astral Científica, das quais Sergio Bento de Araújo é dono. Eles venderam livros e materiais de ensino à Smed, numa compra feita com dispensa de licitação, processo conhecido como “carona” em um pregão do governo de Sergipe, conforme foi revelado em reportagem da Matinal, à época. Escolas e editoras questionaram a seleção do acervo, que não contemplou projetos pedagógicos nem obras de autores locais. O material não chegou às escolas e acabou parado em depósitos alugados pelo município.

Em 2 março de 2022, Janaína Audino deixou o comando da Smed, que passou a ser dirigida por Sônia da Rosa. Uma semana depois, em 9 de março, Sônia da Rosa se reuniu com o empresário Jailson, conforme constou na agenda oficial da chefe da pasta. Dias depois, a prefeitura deu início à compra dos materiais escolares. 

A Atempa exige que o prefeito Sebastião Melo explique de forma transparente seu envolvimento nos fatos revelados pela Operação Capa Dura. Se participou de uma reunião decisiva para a entrada de empresários suspeitos em contratos da administração, como pode alegar desconhecimento do esquema de corrupção? Enquanto a educação pública é negligenciada, a gestão parece envolta em escândalos e interesses privados. A Atempa reitera a urgência de um compromisso firme com a ética e a valorização da educação, sem espaço para conivência com práticas ilícitas.