Nota da ATEMPA sobre a entrevista de Adriano Naves, secretário da SMED

Marchezan e Adriano Naves nunca foram às escolas conversar com educadores/as e com a comunidade escolar, não conhecem as comunidades e a nossa realidade. É a velha jogada de falar mal do serviço público e dos/as trabalhadores/as para privatizar.

O desmantelamento da educação e a retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras têm se aprofundado e não vem apenas por parte da administração municipal. As gestões do estado e do país, também estão aplicando uma agenda nefasta, e a educação tem sido um dos setores mais duramente atacados.

Aqui em Porto Alegre, o Secretário de Educação Adriano Naves, deu uma entrevista, culpabilizando professores/as por todos os “problemas” educacionais, a um colunista do jornal Zero Hora/RBS TV, veículo este que, defende a reforma da previdência, reforma trabalhista, privatizações, assim como apoiou a ditadura, e agora, com o governo Bolsonaro, retorna promovendo uma “caça às bruxas” .

Segundo a fala do próprio secretário os professores e professoras têm ótimas condições de trabalho e o problema é a falta de atenção aos estudantes. A seguir vamos trazer enquanto ATEMPA uma resposta às declarações de Adriano Naves:

Podemos começar questionando o que o secretário quer dizer com “ótimas condições”. Pois a realidade que vemos nas escolas é a falta de manutenção e ampliação de sua estrutura física, de RH, total ausência de assessoria e projeto pedagógico, além da FALTA de adequação, em sua totalidade, para estudantes com deficiência, dos espaços ao acompanhamento pedagógico e de monitoria.

A total FALTA DE SEGURANÇA, que em 2019 já registra muitos casos de violência contra professores/as, estudantes e o ambiente escolar.

Adriano mente sobre o salário de educadores/as que, mesmo estudando e realizando formações por conta própria, não tem nenhuma valorização. Professores/as com mestrado não ganham mais do que 2500 reais, monitoras, mesmo com ensino superior, ganham 1344 reais para 30h, e funcionárias das escolas sofrem com atraso salarial e com todo o assédio da firma terceirizada, constantemente, questões essas que já foram levadas à SMED inúmeras vezes, sem nenhuma providência tomada.

Quando Adriano compara nossas condições de trabalho às condições de um/a professor/a universitário/a, fica nítido que não conhece a realidade das escolas municipais. Não temos computadores nem mesmo internet para preparar nossas aulas, muito menos um espaço adequado ou para pesquisa, até mesmo as bibliotecas foram fechadas.

Faltam recursos humanos, as turmas estão cada vez mais cheias e há aumento de alunos/as que necessitam de atendimentos especializados porém sem encontrá-lo nas escolas, enfrentamos também um abandono na saúde e assistência social na cidade.

Trabalhamos com estudantes em situação de vulnerabilidade social e não há apoio nem mesmo para o mínimo: Faltam centenas de educadores/as na rede e não há nenhum apoio ao setor de alimentação, são 8 nutricionistas para 100 escolas da rede e 243 escolas comunitárias, muitas escolas estão sem ninguém.

Na prática o que existe é a destruição da escola pública, do salário e carreira do/a educador/a. A preocupação, a precariedade inicia na escola e se estende até em casa com as contas e o sustento da família.

O desmantelamento de projetos nas escolas foi e continua sendo arrasador, aliados ao assédio constante da mantenedora. Na SMED, para além do fim ou mudanças de setores e programas de importância, hoje, não se tem uma política pública de resgate e manutenção de estudantes com distorção idade série. Não temos nem mais o ATAR (Assessoria Técnica e Articulação em Rede), espaço que articulava políticas que envolviam assistência, saúde e proteção. 

O que temos é nossa rede sendo tratada como mercadoria, nosso trabalho sendo precarizado, nossa luta e das comunidades criminalizada. Privatizar e reduzir é o lema de Adriano e Marchezan que se vangloriam com destruição de anos de construção das práticas pedagógicas da nossa rede, mas que não resultaram em nenhum avanço em suas avaliações quantitativas. Enquanto isso no dia-a dia estamos lutando contra o fechamento de escolas de ensino médio, técnico e EJAs e contra o encerramento de projetos pedagógicos como: de educação ambiental/Horta/LIAU, robótica, esportes, danças, música, letramento, numeramento, mídias

Para essa gestão o que interessa é a redução de gastos com o público – à exemplo do que acontece com o conveniamento do ensino fundamental com a Lumiar – e o controle via assédio e normas ditadas. Temos agora a imposição da chamada eletrônica (Córtex) na rede, ao invés de pensar via Procempa, que é pública, um projeto de informatização para as escolas municipais, a maioria ainda sem internet.

Nós, educadoras/es, não podemos ficar quietos. Quanto mais nos calarmos mais força eles têm, mais conseguem se construir em cima de mentiras, mais idéias reacionárias se formam porque se não respondemos fica dado como verdade.

É preciso denunciar, dizer à comunidade escolar  e a sociedade de Porto Alegre que Marchezan e Adriano Naves mentem, são irresponsáveis e destroem a educação da cidade, não vão às escolas, não pensam um projeto de educação para as comunidades.

É preciso dizer o que já se sabe, mas é preciso dizer: Os vergonhosos 8% de aprovação de Marchezan expressam a indignação da população frente a uma gestão voltada ao enxugamento de gastos e ao lucro em cima do povo.

NÃO ESTAMOS SOZINHAS/OS. PRECISAMOS NOS ORGANIZAR PARA LUTAR!