Falta de professores em escola da Restinga prejudica 1,3 mil alunos. Alguns só têm aula duas vezes por semana (por Gaúcha ZH)

Duas turmas do 5° ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Alberto Pasqualini, no bairro Restinga, vão para a sala de aula apenas duas vezes por semana. Eles têm, desde o começo do ano, apenas aulas de Artes e Educação Física. O motivo é a falta de professores, um problema que não é pontual na escola. A instituição sofre com a falta de 15 profissionais, entre professores, coordenadores de turno, auxiliar de secretaria e monitores.

Faltam professores referência para turmas do 5º ano, além de docentes de Educação Física, Artes, Filosofia e volantes (que fazem substituição quando outro falta). Com tantas lacunas, a qualidade do ensino fica comprometida na escola de 1,3 mil alunos.

— Não conseguimos ter continuidade nenhuma no aprendizado. O professor que eventualmente consegue substituir dá uma aula mais genérica — explica a presidente do conselho escolar Janaína Barbosa.
Na manhã de terça-feira (15), a reportagem estava na escola quando a turma A34, do 3º ano, foi liberada para brincar no pátio no último turno, das 11h15min ao meio dia, porque estava sem professor de Artes. Enquanto isso, eram observados pela monitora Liliana Santos, que também é responsável por ficar de olho se outros alunos não estão fora de sala de aula e por cuidar quem entra e sai da escola.

Já a sala da turma B21, do 5º ano, estava vazia e trancada em horário que os alunos deveriam estar em aula. Outro prejuízo é a falta de professores para os alunos da noite que cursam o EJA. Alguns acabam desistindo por ter que ir à escola para ter um ou dois turnos de aula.

— Os alunos também ficam mais indisciplinados sem um professor de referência, porque a gente não conhece cada um deles, não sabe das dificuldades de cada um — explica a vice-presidente do conselho escolar, Maria Angélica Leal.

Revoltados, os pais organizaram abaixo-assinado e procuraram o Conselho Tutelar em busca de alguma solução. O problema foi comunicado à Secretaria Municipal de Educação (Smed) mais de uma vez, mas a escola afirma que não obteve retorno.

— Sentimos que está tudo meio bagunçado, os alunos não têm todas as aulas que deveriam. E a quantidade de reclamações dos pais só aumenta — comenta a doméstica aposentada Rosane Barreto, 56 anos, representante dos pais no conselho escolar, cujo neto está no terceiro ano e, só na semana passada, recebeu professora de referência.

A assistente comercial Ana Gabriela da Silva Brum, 34 anos, se preocupa ao ver o caderno do filho, Luiz Henrique, 10 anos, do 5º ano, com apenas cinco páginas escritas até agora:

— Estou apavorada com essa história. A gente já está em maio e nada ainda. Ele pede para não ser trocado de colégio porque gosta da escola e dos colegas.

“Não tem condições de ensinar assim”

Para as professoras e a direção da escola, atender, ao mesmo tempo, a sala de aula, ficar de olho no pátio e na secretaria exige jogo de cintura. É comum a diretora e a vice estarem em sala de aula em um turno e ajudarem a controlar o movimento de crianças no pátio da escola em outro. Ao mesmo tempo, cuidam do telefone na secretaria.

— Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo numa escola. Às vezes, é preciso apartar uma briga, um professor não vem porque está doente, algum aluno foi encaminhado para o Serviço de Orientação Educacional (SOE), na secretaria um pai precisa de algum documento. É muita coisa para fazer e ainda tem as turmas que estão sem professor. A gente acaba virando cuidadoras deles, porque não tem condições de ensinar nada assim. E a função da escola não é essa — desabafa Maria Angélica.

Às vezes, em um único período, as crianças se revezam entre dois professores.

— Não tem qualidade nem sequência de atividades assim, a gente acaba cuidando apenas da segurança deles, mas não da educação — complementa Janaína.

Smed: reunião com a escola e concursos públicos

A Secretaria Municipal de Educação (Smed) afirma que a escola não enviou até o momento a planilha com as necessidades de professores solicitada pela diretoria de Recursos Humanos. O prazo venceu em 25 de abril. A direção da escola, no entanto, reforça que enviou todos os dados tanto para a diretoria de Recursos Humanos quanto para a diretoria Pedagógica. Ontem, ocorreu uma reunião na Smed entre as diretorias Pedagógica e de Recursos Humanos com a direção da escola para nova análise da situação e resolução de inconsistências.

Em relação à dispensa de alunos, a Smed afirma que não orienta “a dispensa dos alunos por falta de professores, pois cabe à direção a reorganização interna dos docentes ativos na escola para se evitar prejuízo aos alunos. Os 200 dias letivos previstos na legislação serão cumpridos.”

A Smed afirma que deve realizar neste ano concursos públicos para suprir, entre outras, as carências geradas por pedidos de aposentadoria. Segundo a Smed, desde o ano passado, 332 professores aprovados em concursos públicos foram nomeados para a rede municipal de ensino, além de 61 monitores, igualmente aprovados em concursos.

Foto: Omar Freitas