Educadores da EMEF Presidente João Goulart relatam perdas provocadas pela enchente e reforçam a força da coletividade

A EMEF Presidente João Goulart, localizada no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pela enchente que atinge o Rio Grande do Sul, foi severamente atingida pela chuva. As perdas são inestimáveis. Equipamentos, destruição dos espaços externos e lastimamos e a destruição de documentos e registros da escola são algumas das consequências avaliadas através de vídeos feitos por moradores da região, visto que não há acesso à escola, que está abaixo d`água.

Mesmo diante dos desafios impostos, professores(as), funcionários(as) e direção acreditam na força da coletividade para a recomposição da vida escolar. “Para que, entre tantas outras coisas, voltemos a ser o que sempre fomos: um ponto de referência e inflexão da comunidade. E esse é um desafio a ser encarado, acreditamos, COLETIVAMENTE”, diz trecho da carta.

Leia a íntegra da carta

A EMEF Pres. João Belchior Marques Goulart foi invadida pela água a partir da tarde de sábado, 4 de maio, e hoje, 9 de maio, permanece completamente alagada. Não é possível fazer uma avaliação dos estragos, uma vez que o acesso à região ainda não é possível, a não ser por barco. As imagens feitas por moradores e socorristas mostram os prédios da escola tomados pela água. Imagens da rua Paulo Gomes de Oliveira e da rua Pedro Moretto mostram a escola quase que submersa.

Nos prédios mais baixos, que têm um único piso – bloco da Educação Infantil e sala de psicomotricidade, bloco dos banheiros, cozinha, refeitório, sala multiuso, sala de educação física, guarita, depósitos e salas de serviço – a água cobriu os telhados. Nos outros dois prédios principais, que têm dois pisos, estima-se que a água atingiu o segundo piso. Nesses prédios localizam-se, no andar térreo, a secretaria, as salas da direção, do SSE, do SOE, da SIR, de artes e de inovação, além do laboratório de ciências, a biblioteca e salas de aula. No andar superior, além de mais salas de aula, estão o almoxarifado/reprografia, o LA, a sala de vídeo e o EEABI/sala de projetos.

Como não pudemos entrar na escola, por conta da altura da água na Vila Elizabeth, não sabemos a dimensão dos estragos, mas não temos a menor expectativa de encontrar algo que tenha permanecido enxuto. Para além dos equipamentos de toda natureza, lastimamos a imensa perda que significa a destruição de documentos e registros da escola. E a tudo isso acrescenta-se a destruição nos espaços externos da escola.


Sabemos que nossa dor não é única, nesse contexto de enchente e destruição. Estamos enlutados por muitas perdas. Acima de tudo, pelas vidas perdidas em nossa comunidade. Depois, porque a comunidade escolar foi deslocada de suas residências (que em muitos casos, já se encontravam, anteriormente ao avanço das águas, em áreas de absoluta vulnerabilidade e risco). Perderam, materialmente, tudo. Muitos colegas, moradores na região da escola, mas também em outras regiões de Porto Alegre e nos municípios vizinhos, viram suas residências engolidas pela enchente. Tudo isso provoca muito sofrimento.


Mas também sofremos demais com o desfazimento de nossa VIDA ESCOLAR, na complexidade das dimensões que essa expressão comporta. O avanço do projeto pedagógico da escola está, temporariamente, interrompido. Conquistas, maiores mesmo que aquelas que podem ser aferidas por índices, estão estacionadas.


A retomada do e no território da escola passa pela reconstrução material, é certo. A necessidade de apoio é inquestionável. Mas, em medida maior, passam pela recomposição de nossa VIDA ESCOLAR, para que, entre tantas outras coisas, voltemos a ser o que sempre fomos: um ponto de referência e inflexão da comunidade. E esse é um desafio a ser encarado, acreditamos, COLETIVAMENTE.

Porto Alegre, 9 de maio de 2024.

Coletivo de Professoras, Professores, Funcionárias e Funcionários
EMEF Pres. João Belchior Marques Goulart