Neste domingo (18), centenas de manifestantes participaram de um protesto em defesa do motoboy Everton Henrique Goandete da Silva. No sábado (17) ele foi esfaqueado no pescoço após discussão com um morador do bairro Rio Branco. Ao acionar o 9º Batalhão da Brigada Militar para buscar ajuda, foi detido pelos policiais, que alegaram desacato. Everton foi levado, junto com o agressor, para a delegacia.
O ato, convocado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais (Sindimoto) e realizado próximo à Redenção, repudiou a abordagem totalmente equivocada e violenta dos policiais.
A Atempa, representada pelas diretoras Luciane Congo e Camila Reis, participou da manifestação. A dirigente ressaltou que a luta antirracista também é uma defesa sindical, pois se expressa, assim como as questões anti-machistas, nas relações de trabalho. “Falo aqui como uma mulher negra, mãe de um jovem negro, que muitas vezes já foi seguido e abordado pela polícia. Quando eu vi as imagens de agressão ao Everton pensei no meu filho, nos alunos que têm medo da polícia e em toda juventude negra, que a cada 23 minutos tomba nesse país. Não podemos mais tolerar essa política imposta por governos autoritários e racistas, que fecham os olhos para a violência diária contra os negros”, declarou.
“As questões de gênero, raça e classe estão imbricadas em nossa sociedade. E a luta antirracista está colocada no patamar da luta anticapitalista. Queremos uma sociedade em que não haja mais essas formas de opressão, racismo e violência”, acrescentou.
A Atempa repudia veementemente o abuso policial, que não pode ser tolerado e, muito menos, perpetrado. É preciso lutar por reformas democráticas e antirracistas na estrutura de segurança pública do estado.
A Associação reafirma seu firme posicionamento contra o racismo e exige, junto com todas as entidades e representações presentes no ato, a punição imediata dos policiais envolvidos e a devida e justa reparação a Everton.
Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania acompanha o caso e cobra medidas efetivas do governo
O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, se pronunciou na manhã deste domingo (18) sobre a prisão do motoboy negro pela Brigada Militar.
Almeida afirmou que o caso “demonstra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes” e anunciou ação conjunta com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
“É preciso que as instituições passem a analisar de forma crítica o seu modo de funcionamento e aceitar que em uma sociedade em que o racismo é estrutural, medidas consistentes e constantes no campo da formação e das práticas de governança antirracista devem ser adotadas. Em outras palavras, é preciso aceitar críticas e passar a adotar medidas sérias de combate ao racismo em nível institucional”, disse o ministro.
“Conversei com a Ministra Anielle Franco e entraremos em contato com as autoridades gaúchas para acompanhar o caso e ajudar na construção de políticas de maior alcance”, emendou.
Anielle Franco também se pronunciou sobre o caso e disse que “as imagens causaram revolta, com razão, pelos indícios de racismo institucional”.
“Nossa equipe acompanhará, junto ao Ministério da Justiça e o Ministério dos Direitos Humanos, os desdobramentos das investigações”, afirmou.