Atempa acompanha aula de dança da Emef José Loureiro da Silva e levanta dificuldades

“Hoje, em 2018, este local não é apenas de agradecimento. Com o reconhecimento do prêmio, entendo que preciso direcionar a minha energia para que Porto Alegre volte a ser um expoente de arte e cultura. Não tenho poder para reabrir cada espaço que foi desativado, tampouco para criar pontos de cultura em cada praça ou parque. Mas posso continuar desejando. Desejo que Porto Alegre volte a enxergar a potência transformadora da arte e me permita continuar testemunhando vidas que se modificaram a partir da perspectiva da dança”, disse a professora e vencedora do prêmio Açorianos de Dança 2017, Isabel Willadino. A fala de resistência aconteceu no dia 25 de março, no Teatro Renascença, durante a entrega do prêmio.

A Atempa entrou em contato com Isabel para conversar sobre o trabalho desenvolvido na rede municipal de ensino e visitou a Emef José Loureiro da Silva, onde ela ministra as aulas de dança, que contam com pré dança, jazz, balé e dança contemporânea, no contraturno, através do projeto da Escola Preparatória de Dança (EPD). Seis escolas da Rede Municipal de Ensino funcionam como sedes do projeto: as escolas municipais de ensino fundamental (Emefs) Dolores Alcaraz Caldas e Senador Alberto Pasqualini, na Restinga; José Loureiro da Silva, no Cristal; Pepita de Leão, no Passo das Pedras; Deputado Victor Issler, no Mario Quintana; e Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha, na Vila Elizabeth. A professora lembra que, em 2014, as aulas de dança contavam com 10 a 12 professores. Hoje, são apenas 5 professores/as e dois contratos. Segundo ela, a falta de RH denuncia o descaso da gestão municipal. A falta de profissionais, aliada ao fim dos outros projetos que aconteciam nas escolas, também fazem com que os/as alunos/as não possam mais permanecer até o fim da tarde nas escolas, o que dificulta o deslocamento, por impossibilidades dos pais, questões de segurança.
Mesmo com todas as dificuldades mencionadas, o diálogo com Isabel e o acompanhamento de uma aula na Emef Pepita foram inspiradores. A professora relata que, no andamento das aulas, os/as alunos/as demonstram maior facilidade para se expressarem e vão adquirindo o interesse por espetáculos, que ela vai apresentando, convidando, ou seja, a arte vai sendo inserida na vida de cada um e cada uma. Na aula, em uma turma de 17 alunos/as, quando a Atempa perguntou quem tinha interesse em seguir carreira na dança, prontamente 14 levantaram o braço animados. Ela lembrou também que os/as adolescentes que saem das aulas dela ocuparão espaços na Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre, que seleciona dançarinos/as, a partir dos 18 anos, ressaltando a capacidade de mobilidade social do trabalho. A Cia atua em parceria com as Escolas Preparatórias de Dança (EPDs) e com a Companhia Jovem de Dança, que seleciona dançarinos/as a partir dos 12 anos. “A dança é tudo para mim”, disse a aluna Júlia Portes(10 anos), quando questionada sobre o papel da dança na vida dela. “Eu melhorei em concentração, flexibilidade, postura, em tudo”, complementou a colega Júlia Eduarda Santana(14 anos). “A dança me ensinou que eu não tenho que ter vergonha, aprendi a me expressar em público. Comecei a dançar aos 15”, disse o aluno Gustavo Conceição(17 anos). O irmão gêmeo de Gustavo, Guilherme da Conceição(17 anos), disparou em seguida: “Começamos juntos e já me apresentei várias vezes. O Guilherme que dança é bem melhor que o de antes.”
No dia da entrega prêmio Açorianos de Dança 2017, quando ocorreu a manifestação da professora Isabel, a aluna da Emef Dolores Alcaraz Caldas Marielly da Cruz(13 anos) chamou a atenção pela performance na coreografia “Marielle, presente!”, baseada no poema de Bruno Negrão e Ana De Cesaro, da coreógrafa Helena Paz. Marielly frequenta a escola de dança na Emef Senador Alberto Pasqualini e, em conversa com a Atempa, disse que ficou muito feliz por receber a tarefa de homenagear a vereadora assassinada no RJ. A estudante relatou também que a dança transformou-a , porque hoje, tudo que ela faz é pela dança. Os treinos acontecem 5 vezes por semana e ela não teve dúvidas ao dizer sim quando questionada se gostaria de seguir profissionalmente com a atividade. A coreógrafa Helena Paz esclareceu que a escola também vem enfrentando dificuldades por falta RH, totalizando déficit de 25 horas, atualmente.